segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Bairro sem tratamento de esgoto! Em Curitiba (cidade modelo)?

Córrego poluído gera impasse no Boqueirão

Sem conseguir implantar coleta de esgoto em imóveis “ilhados” pelo Córrego Evaristo da Veiga, Sanepar sugere obra particular. Moradores e prefeitura contestam


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O empresário Ildomar Ignachewski, 41 anos, praticamente se criou às margens do Córrego Evaristo da Veiga, no bairro Boqueirão. “A gente caçava rã e nadava aqui, mas isso faz muito tempo”, lamenta. Na época, o pequeno curso d’água era mais estreito e fundo e a natureza ao redor era exuberante, desde a nascente, no Xaxim, até a foz no Rio Belém.
Ao longo dos últimos anos, porém, o córrego foi canalizado e suas águas contaminadas por lixo e efluentes domésticos. Para piorar, em cinco de nove quadras da Rua Evaristo da Veiga, paralela ao córrego, não há rede coletora de esgoto na margem direita do rio – entre a Rua Paulo Setúbal e a Avenida Marechal Floriano (veja o mapa abaixo). Os imóveis nesse trecho foram construídos junto ao leito. “Ilhados”, os moradores despejam os dejetos no curso fluvial, pois a rede coletora passa apenas do outro lado da rua.
“Onde era possível, a rede dupla (dos dois lados da via) foi executada. Onde não foi, era porque o córrego não dava condições. Pela frente (dos lotes) não há como executar a obra”, argumenta Fábio Queiroz, gerente da Regional Leste da Sanepar. Segundo ele, como não há espaço em frente aos lotes para passar a rede, somente duas alternativas são viáveis – ambas de responsabilidade (inclusive financeira) dos próprios moradores: a abertura de fossas (pouco recomendáveis, pois contaminam o lençol freático) ou a construção de uma rede particular, que interligue os imóveis e se conecte à coletora pública já existente nas pontas das quadras.
Onde era possível, a rede dupla (dos dois lados da via) foi executada. Onde não foi, era porque o córrego não dava condições. Pela frente (dos lotes) não há como executar a obra.
Fábio Queiroz, gerente da Regional Leste da Sanepar.
Segundo Queiroz, a Sanepar não executa obras dentro de propriedade particular. “É um empecilho técnico mesmo, de atendimento e manutenção. Toda vez que precisasse mexer na rede, teríamos que pedir permissão ao proprietário”, justifica. Porém, ele recomenda que os moradores, caso construam a rede particular, busquem orientação técnica nos postos da companhia nas Ruas da Cidadania.
Para Ildomar, cujo imóvel recebe água potável através de mangueiras suspensas sobre o córrego, há outras alternativas. “Se a água passa, o esgoto também poderia voltar, só que em canos mais grossos”, sugere. Ele acredita que convencer os moradores a fazer a rede particular e pagar por ela é inviável. “O certo seria fazer a tubulação passar sobre o rio. Seria mais barato do que invadir os terrenos”, pondera.
Mau cheiro
Fernando Ribeiro da Luz, 40, mora do outro lado da rua, onde passa a rede coletora. Apesar disso, ele também sofre com o mau cheiro do córrego e com a infestação de ratos e pernilongos. “Também dá muito ladrão nessas árvores”, ironiza, referindo-se à falta de segurança nas margens estreitas e íngremes do córrego, tomadas pelo entulho. Quando chove forte e a vazão aumenta, os problemas se agravam. “A água de branca fica preta. Tem garrafa pet, madeira, tudo que é tipo de lixo”, conta Ildomar. Até cavalo morto já passou boiando por ali. E a forte correnteza ainda ameaça desbarrancar margens.
Situação, aliás, que o líder comunitário Mauro Gonçaves, 47, tenta há anos reverter. Em 2005, ele bolou um projeto para revitalizar o rio. O documento foi enviado a 13 secretarias municipais e ganhou o aval do então prefeito Beto Richa. Algumas melhorias foram feitas, mas a parte de saneamento não avançou. “Acho que a solução depende dos próprios moradores, de não jogar lixo, e do poder público, de tirar os esgotos. Se houver uma parceria, o problema pode ser resolvido”, conclui.
Acho que a solução depende dos próprios moradores, de não jogar lixo, e do poder público, de tirar os esgotos. Se houver uma parceria, o problema pode ser resolvido.
Mauro Gonçaves, líder comunitário



Ildomar, que brincava no córrego quando era criança, agora convive com o mau cheiro, os ratos e o lixo jogado dentro do rio (Foto: Antonio Costa/GP)


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