segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Necrochorume - toxinas em nossos lençóis freáticos

Necrochorume - Uma Verdadeira Ameaça
Voltando ao propósito do projeto e ao mesmo tempo deixando um pouco de lado alguns aspectos a respeito dos cemitérios até aqui, gostaria de mencionar sobre um líquido oriundo de cadáveres que além de ser um problema de saúde pública sério, acarreta fatalmente impacto ambiental tanto no solo, como nos lençóis freáticos em locais onde se situam os cemitérios tidos como convencionais que não se adequaram a resolução da CONAMA, datada de 2003, e que até o momento quase 90% dos cemitérios públicos (a grande maioria começou a funcionar antes da década de 1970) no Brasil sequer se lixam para alguma adequação a regras de como o cemitério deve ser disposto.
O papo de hoje pode soar como mórbido, porém o tema principal é o responsável-mor pela poluição dos lençóis freáticos em regiões em torno de necrópoles. Pouca gente se dá conta de que os mortos podem ser grandes poluentes de forma real e imediata...O porque disso ?
O Necrochorume nada mais é que um processo de decomposição de um ser vivo, que ao todo leva em média 2 anos e meio e que acarreta a formação em estado líquido. Esta substância é eliminada durante um ano após o sepultamento. Para ser franco, o necrochorume é um escoamento viscoso, com coloração acinzentada, cuja composição é 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, duas delas altamente tóxicas, a putresina e a cadaverina, que com precipitação em forma de chuva, atinge o lençol freático. Voltando ao primeiro parágrafo, foi constatado que desses 90% das necrópoles tidas como irregulares, 3/4 deles estão com solo e lençol freático comprometidos. As causas básicas são duas : Despreparo no cuidado do sepultamento e localização em terrenos inadequados. Segundo a Legislação Ambiental vigente, o limite entre a cova e o lençol freático não pode ser menos de 2 metros.
Mesmo diante dos riscos, não há legislação específica e nem mesmo um órgão dedicado a fiscalizar contaminações de quaisquer escala e até a literatura sanitária sobre o tema é escassa. Conclusão: cada município fica com uma carga de responsabilidade para resolver este assunto e os prefeitos e secretários ligados ao Meio Ambiente, Saúde e Planejamento ficam sem saber o que fazer. Vale lembrar que todo cemitério é um risco potencialmente grande para o Meio Ambiente. Porém, só é um risco real quando não está implementado de forma adequada. Como é essa forma ? Avaliação de Condições Geológicas (tipo de solo) e Hidrogeológicas (profundidade do aquífero). Todavia, as prefeituras em geral, optam terrenos de baixo custo financeiro sem verificar os detalhes que podem ser cruciais na vida populacional nos próximos anos. E outro agravante é que até mesmo autarquias ligadas ao aspecto ambiental fazem um jogo de empurra-empurra, ora com as prefeituras, ora com órgãos estaduais e federais.
Enquanto isso, aumentam-se os riscos na saúde pública. Foram realizados estudos sobre o assunto e foram constatados que as pessoas que ingeriram bebida contamida com necrochorume, com o passar dos anos adquiriram moléstias interligadas ao necrochorume. Ou seja, adquiriram doenças herdadas por cadáveres de pessoas enterradas num cemitério que pode se localizar há quilômetros de distância !!! Pode soar como absurdo ou uma teoria do caos, mas é um fato comprovado quando há descaso na manutenção das necrópoles de forma adequada.
Apesar de esforços esporádicos, a complexidade do assunto impede de haver uma análise mais profunda e nem mesmo um senso comum de métodos para classificar o impacto ambiental dos cemitérios está sendo possível. Um dos esforços vem de Curitiba, mais precisamente do Cemitério Parque São Pedro, inaugurado em 1996, que foi implementado totalmente de acordo com as normas ambientais e em parceria com os departamentos de Geologia e de Química da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Foram realizados estudos e obras que conduzem o necrochorume para um filtro biológico, impedindo assim qualquer possibilidade de haver qualquer tipo de contaminação.
Mas ainda é muito pouco diante da omissão constante sobre o necrochorume, um assunto sério de Saúde Pública e Meio Ambiente.

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