Regiões Norte e Nordeste do país e periferias das grandes cidades brasileiras concentram o maior número de hospitalizações por diarreia
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Por: João Rodrigo Maroni
Com base em dados fornecidos pelos ministérios da Saúde e das Cidades, um estudo divulgado hoje pelo Instituto Trata Brasil comprova a relação intrínseca – e inversamente proporcional – entre a coleta e tratamento de esgoto e o número de internações por diarreia nas grandes cidades. A doença foi escolhida como parâmetro porque representa cerca de 80% das enfermidades ligadas à falta de saneamento básico.
A pesquisa lista o número de internações por diarreia para cada grupo de 100 mil habitantes nos 81 maiores municípios do país (com mais de 300 mil pessoas e que, juntos, concentram perto de 72 milhões de habitantes) e compara as informações com o tamanho das redes de coleta e tratamento de efluentes dessas cidades. O resultado mostra que as regiões Norte e Nordeste e as periferias das metrópoles concentram o maior número de internações. Não por acaso, essas áreas possuem as menores taxas de coleta de esgoto e estão entre as mais pobres do país. Nas cidades mais ricas, com maior coleta de efluentes, os índices de hospitalização são até quatro vezes menores que nas áreas mais pobres.
“No Brasil, o saneamento básico ainda é muito precário e depende do líder local fazê-lo ou não. Isso está mudando, mas ainda não há uma determinação nacional para que essas condições sejam alteradas”, analisa o biólogo Judicael Clevelário Júnior, pesquisador do Instituto Trata Brasil e responsável pelo levantamento, juntamente com a geógrafa Denise Maria Penna Kronemberger. A dupla analisou uma série histórica de internações por diarreia entre os anos de 2003 e 2008 e criou um índice que leva em conta também a presença de redes coletoras de esgoto.
Ao focar neste índice em particular, observamos que no topo do ranking dos dez piores desempenhos estão, pela ordem: Belém (PA), com 418,3 hospitalizações por diarreia em cada 100 mil habitantes; Belford Roxo (RJ), com 396,3 internações; e Nova Iguaçu (RJ), com 277 – só para citar os três primeiros. Já na outra ponta da tabela, aparecem: Bauru (SP), com 18,8; Franca (SP), com 23,3; e Santos (SP), com 26,7. Dos dez melhores resultados, sete são de cidades paulistas e três são mineiras.
Quando analisadas apenas as taxas médias brutas (2003 – 2008) de hospitalização por diarreia – sem levar em conta a cobertura de coleta de esgoto -, quem aparece com o pior desempenho é a cidade de Ananindeua, no Pará, com 726,2 internações por 100 mil habitantes. Já a melhor é São Bernardo do Campo (SP), com apenas 13,9. A taxa média das 81 cidades fica em 132,3.
Paraná
Os cinco maiores municípios do Paraná mostram um desempenho de mediano para bom, segundo Clevelário Júnior, mas ainda há muito a fazer, principalmente em Ponta Grossa, que tem média de 249,8 (15ª no ranking geral dos piores desempenhos). As outras quatro paranaenses são: Foz, com 73,7 (40ª); Maringá, com 74,6 (38ª); Londrina, com 58,5, (51ª); e Curitiba, com 55,9 (53ª). “Foz, por exemplo, que tem um aeroporto internacional, é uma cidade rica, e tem 41% do esgoto não tratado. Será que a população não merece um saneamento universalizado?”, questiona Clevelário Júnior.
Para o pesquisador, é preciso investir nos grandes centros urbanos, mas sem esquecer as pequenas cidades. “Talvez a gente tenha que estimular a associação entre os municípios que, juntos, podem reivindicar a coleta de esgoto e ter o peso de uma Ponta Grossa, uma Foz do Iguaçu ou uma Maringá. E pensando sempre em soluções regionalizadas, com esgotamento e tratamento mais adequados às suas realidades”, pondera.
Outra condição importante para melhorar o saneamento básico no Brasil, segundo Clevelário Júnior, é obrigar as concessionárias a coletar corretamente e a divulgar essas informações. E cita o caso de Ananindeua, onde se desconhece os índices de coleta de esgoto. “A ausência de dados é uma espécie de crime contra a nossa população. Quando uma prestadora não divulga isso, dificulta a análise. Não é preciso investimento para fazê-lo, basta compromisso”, sentencia.
O maior risco de não se fazer uma pequena revolução no saneamento básico brasileiro é tirar as condições ideais de desenvolvimento das próximas gerações, até porque, segundo o pesquisador, as crianças são sempre as maiores vítimas desse erro. “Vamos continuar a ser o país do futuro, de um futuro que nunca chega”, conclui.
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